Triathlon Insano em Guaratuba – Lauro Caversan

O interessante em muitos esportes é a rivalidade. Rivalidade sadia, em que dois ou mais atletas competem especialmente entre si em busca do tão desejado pódio – ou tentando apenas chegar na frente de seu adversário.

Existem inúmeros exemplos na história de antagonismos viscerais que, às vezes, ultrapassavam as barreiras do fair play. Quem não lembra de Airton Senna vs Alain Prost, Pete Sampras vs Andre Agassi, Mike Tyson vs Evander Holifield e, mais recente, Lionel Messi vs Cristiano Ronaldo no futebol.

A vontade de vencer seus oponentes faz com que os competidores busquem evoluir a cada instante, treinando com muito mais empenho e energia do que se corressem contra si mesmos, apenas em busca de uma superação pessoal.

Há poucos anos, a ciclista profissional e medalhista olímpica Victoria Pendlenton lamentou a aposentadoria de sua arqui-inimiga das pistas, Anna Meares, declarando publicamente algo como ‘nunca teria atingido meus objetivos no esporte sem a minha melhor adversária. A partir de hoje as provas não serão as mesmas.’

Essa competição franca pode ser a mola propulsora para a busca de seus melhores resultados. Traz uma vontade de lutar que ignora a dor e a exaustão. Atleta não é quem treina o corpo, mas quem controla a própria mente.

Estávamos em Guaratuba, fim de setembro eu acho, prontos para largar na prova da franquia Heróis do Triathlon, categoria Insano: 1,5km natação, 60km bike e 16km correndo, se não me falha a memória. Era um dia bastante quente, quase fim de temporada de provas e o corpo já dava bons sinais de cansaço.

Como de costume, dias antes eu verificava quem estava inscrito para o evento, em particular na minha categoria para definir a estratégia. Na época havia três atletas que eu observava de perto: João Kocy, Marcos Fernades, ambos categoria 35/39, e o Derik Afornali, um pouco mais jovem.

Eu sempre estava de olho neles porque eu, em geral, terminava o ciclismo em primeiro, mas era ultrapassado na corrida. Pelos três, independente de quem saía antes da água. Sempre! E isso me tirava do sério…

Por mais que eu me esfolasse em cima da bike tentando abrir vantagem, na primeira, na segunda volta, ou na reta final próximo da chegada, todos esses ilustres já tinham me ultrapassado. A corrida sempre foi a minha disciplina mais defasada e, para deixar tudo ainda mais complicado, eles eram excelentes corredores.

Pois bem.. alinhados para a largada estávamos eu e o meu querido amigo – e rival alvo preferencial, João Kocy. Pensei: já vi esse filme antes. O cidadão vai me pegar na corrida. Mas daí… quer saber? Se vai me pegar, vai ter de fazer muita força. Hoje eu estou pro crime!

Largada, natação, início de prova e tudo correndo conforme o planejado. Peguei a bicicleta e dá-lhe! – são sessenta quilômetros pela frente, pensei: força na peruca!

Pedalei com toda a energia disponível sem saber o que iria sobrar para a corrida depois. Não tinha vento, pista plana e bem conservada. Condições perfeitas para andar forte. Encontrei o João no início da primeira volta.

Malandro de outros carnavais, fui me aproximando quietinho, na surdina.. Ultrapassei e dei tudo o que pude. Fiz muita força. Quando ele percebeu, eu já tinha aberto uma pequena vantagem e continuava rápido.

Ele: reação imediata, veio atrás.

Eu: continuei no máximo, acelerando.

No fim da primeira volta, (acredito que) ele achou a estratégia ruim e resolveu ir mais devagar. No triathlon, o que se faz em excesso no pedal, se paga na corrida – e com juros. Continuei com tudo. Era a minha única chance: tentar abrir uma vantagem para que ele não me pegasse depois.

Dia quente, muito sol… Aquela gente toda curtindo a praia e eu lá, correndo do Kocy.

Mas deu certo. Consegui manter a vantagem e pela primeira vez passei pela linha de chegada antes dele, mesmo sofrendo muito. Todo campeão foi um competidor que se recusou a desistir, não é? Obrigado João pela presença em Guaratuba. Sem você não teria feito uma prova com tanta obstinação.

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